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B.B. King inicia turnê atrás de espaço para o blues
O rei do blues quer espaço. Não para si, mas para o gênero. B.B. King toca nesta terça-feira no Rio dizendo se sentir um discípulo com a missão de propagar uma música que, segundo ele, não tem mais espaço no mainstream. Porém, ele não se permitiu criticar ou reclamar dos sucessos do mundo pop na coletiva concedida em um hotel em São Conrado. "Admiro todos", resumiu. A primeira apresentação do guitarrista de 84 anos nesta passagem pelo Brasil estará lotada. Não há mais ingressos à venda. Muito solícito, como de costume, ele chegou de boina e cadeira de rodas ao saguão. Mas disposição não lhe falta. Enquanto tentavam fazê-lo descansar, encerrar o bate-papo, queria mais. Conversar é um dos maiores prazeres de B.B. King, bem como comer. Isso sem falar, é claro, das mulheres, "o maior presente de Deus a este planeta" e tema recorrente em quase todas as suas respostas. Não quis, contudo, dar pistas sobre o setlist. Saiu-se com essa, respondendo a uma repórter: "Você conta para as suas amigas como se vestirá para uma festa? Posso dizer que farei o meu melhor". "Adoro o meu trabalho. É claro que fico cansado de vez em quando, como qualquer um que tente ganhar dinheiro legalmente fica. Mas amo comer e trabalhar. Eu não completei os estudos, mas conheci mais de noventa países, culturas. Basta eu ver pessoas sorrindo como vocês que trabalharei pelo resto da vida", afirmou o guitarrista, acrescentando que já tem material para gravar um novo disco, porém sem precisar quando isso se concretizará: "Planejo gravar, mas não encontrei algo que se encaixe com o que quero agora. Há muitos tipos de pessoa, mas a música é a mesma. Virá sempre daquelas notas, daqueles tons. Então não há boa música e música ruim. É tudo questão de como você coloca tudo isso junto". Questionado sobre ser um músico que influenciou diversas gerações e grandes guitarristas como o citado Jimi Hendrix e outros, o "professor" deu aula de humildade. "Eles nunca me disseram isso, só ouvi de vocês, jornalistas. Mas tenho orgulho de todos eles. Acredito em Deus. Ele faz o que quer, quando quer. Espero que os tenha influenciado. Estou por aí há 84 anos, então vi quando começaram e quando terminaram. Mas muitas coisas do que faziam, eu não faço. Eu não bebo, eu não fumo. E imploro a eles (músicos) que não o façam, porque viverão muito mais. Só fico triste porque o Hendrix e outros não estão mais aqui". Ao comentar sobre o esquecimento do blues, tristeza. B.B. King se mostrou bastante incomodado com a falta de espaço para o gênero. "Fico triste, você não ficaria? As pessoas falam do B.B. King, mas não me ouvem. As rádios não tocam blues. Tenho um programa de rádio, mas no geral, não tocam. Você acaba sentindo como se as pessoas não gostassem mais de você. Mas quem sou eu para dizer o que elas devem ou não devem gostar? ". Ele fez questão de deixar claro que não se referiu, acima, ao seu público. "Estou falando das rádios, dos publicitários. Mas não presto atenção. Posso ser um professor, estou velho, mas sou um professor que ama tocar. Eu poderia tocar todas as noites, como fazia antigamente, e teria gente lá, mas não tocam a música nas rádios, enquanto a maioria dos astros de rock aparece diariamente". A afirmação foi rebatida com a alegação de que ele fora eleito pela revista Rolling Stone como o terceiro maior guitarrista de todos os tempos. Venceu o bom humor. "Acho que eles dormiram, não sabiam o que estavam escrevendo", brincou. A recordação mais especial que guarda do Brasil foi do show feito no Ibirapuera, em Sâo Paulo (1995), para cerca de 100 mil pessoas. "Foi um festival e me trataram como se fosse uma entidade sagrada. Gostei muito", disse, abrindo o sorriso. "Se eu tivesse nascido no Brasil seria rico como vocês. Queria ter mais tempo para sentar e conversar. Já estão me fazendo sinais aqui para calar a boca. Espero que o show (desta terça) esteja lotado e que as pessoas gostem do que vou tocar. Gostaria de conversar com todos na plateia, apertar as mãos deles. Adoro ouvir o que as pessoas pensam. Mas se sou bom guitarrista, boa pessoa, cabe a vocês avaliar". Antes de atender a todos os pedidos de fotos e autógrafos com uma simpatia ímpar, B.B. King falou ainda sobre a sua influência sobre músicos brancos, que passaram a conhecer o blues pelos seus solos com a inseparável Lucille. "Isso foi importante, porque eles não sabiam sobre o blues. Poucos ouviam, poucos tocavam. Penso em mim como um discípulo que carrega a música pelo mundo. Não digo: 'Goste!'. Decidam vocês se gostam ou não", concluiu a lenda viva do blues, que fará mais quatro shows pelo Brasil (três em São Paulo e um em Brasília). A motivação para, aos 84 anos, fazer tantos shows, é simples: "Quero ser melhor. Você não está morto até morrer". ...


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